QUERO
DESTRUIR CATEDRAIS
Quero destruir catedrais / Nas mentes dos mortais / Quero derrubar verdades supremas / De alicerces fundos / Dos meus confusos mundos / Quero aniquilar o amor eterno / Monogâmico / Erguer o amor momentâneo / Somático / Rebentar o monumento familiar / Estático / E plantar a amizade / Dinâmico
Quero destruir catedrais / Nas mentes dos mortais / Quero derrubar verdades supremas / De alicerces fundos / Dos meus confusos mundos / Quero aniquilar o amor eterno / Monogâmico / Erguer o amor momentâneo / Somático / Rebentar o monumento familiar / Estático / E plantar a amizade / Dinâmico
Quero destruir catedrais / Nas
mentes dos mortais / Quero derrubar verdades supremas / De alicerces fundos /
Dos meus confusos mundos / Quero cortar as fronteiras / E abraçar as gentes /
Comer as palavras vãs / Reinventá-las quentes e profundas / Explodir
governantes inaptos / Varrer-lhes os restos / Matérias imundas.
Quero destruir catedrais / Nas mentes dos mortais / Quero derrubar verdades supremas / De alicerces fundos / Dos meus confusos mundos / Quero destruir catedrais / Esquartejar seus mestres / Estilhaçar a fé / Nas mentes dos mortais;
Ensiná-los deuses / Todos iguais / Colocá-los de pé / Descrentes.
Quero destruir catedrais / Nas mentes dos mortais / Quero derrubar verdades supremas / De alicerces fundos / Dos meus confusos mundos.
Quero destruir catedrais / Nas mentes dos mortais / Quero derrubar verdades supremas / De alicerces fundos / Dos meus confusos mundos / Quero destruir catedrais / Esquartejar seus mestres / Estilhaçar a fé / Nas mentes dos mortais;
Ensiná-los deuses / Todos iguais / Colocá-los de pé / Descrentes.
Quero destruir catedrais / Nas mentes dos mortais / Quero derrubar verdades supremas / De alicerces fundos / Dos meus confusos mundos.
Alentejo 2010
Cava, rapaz. Cava. Dá-lhe com
a força que tens e a outra que procuras, para tentar chegar ao tesouro. Cava
essa terra endurecida e estéril, que nada te dará para além de um punhado de
memórias fragmentadas, compartimentadas cientificamente. De quando em vez faz
uma pausa para repôr os níveis de água no corpo; não por muito tempo, mas o
suficiente para olhares a enorme debulhadora que passa a ceifar o trigo,
conduzida para o Sr. Francisco que te sorri e te acena. Pensa nas almas que
cavavam e ceifavam estas terras, ainda tu eras criança, no seu esforço, nas
suas vidas breves e cheias de nada. Reconforta-te nessas imagens da ironia
histórica e não penses mais, não disseques as ideias que te podem fazer chegar
a comparações anacrónicas, talvez....
Cava, besta. Cava. Dá tudo o
que os teus músculos doridos podem dar, as tuas mãos calejadas, a tua alma
sofrida. Dá tudo, para que pagues a tempo os impostos, os teus e da tua família
que os não consegue pagar. Paga sem bufar, sem pensar sobretudo em todos os
cabrões que passaram anos a esbanjar o que lhes davas sorridente, com o suor a
escorrer pelo corpo e esse corpo a anunciar as primeiras mazelas dos dias que
corriam depressa demais. Não penses, porque agora alguém quer por freio nisso.
Acredita, menino. Acredita. Crê como a fé que tinhas e que perdeste no caminho,
pelo meio das distracções da ciência; crê que agora os mesmos cabrões vão ser
sérios e gastar bem o teu dinheiro, poupar como tu o poupas todos os dias. Se
não quiseres crer, ainda te podes manifestar contra o mais e mais que te
roubam, contra esses que tomam decisões por ti, o parvalhão que vota com a
ideia que tem algo a dizer, que os outros te vão ouvir. Viva a liberdade à
medida que ta vendem como sendo a tua, na medida em que tu escolhes. Viva a
liberdade e não penses também que esses parvalhões que se indignam nas ruas da
capital só estão contra que lhes vão aos seus bolsos. Quais questões de
princípio; quais revoluções sangrentas contra esses que roubam o mesmo que seus
pais roubavam, da mesma forma que lhes ensinaram durante séculos e séculos.
Cava, português. Cava. Sente
esse orgulho desmesurado na tua cultura; na tua língua que se globaliza por
ordem de um Presidente da República tabula rasa; nos donos das artes que
maltratam os artistas que lhes não enchem os bolsos e que os sacralizam na
morte para que rendam tudo o que neles investiram. Vai ao futebol e bebe cerveja
nacional e grita vivas quando ganham e chama-lhes nomes quando perdem e
considera que estás num país pequeno, que todos nós somos muitos pequeninos e
que daí, de forma dogmática, tens de aceitar esse suor que te ensopa as roupas.
Cava, filho da puta. Cava.
Sonha com o final do dia e com a possibilidade de ires beber umas cervejas ao
tasco da aldeia. Tu feliz, sim, porque nada tens a ver com todos os outros que
se encharcam de cerveja ao teu lado, com o mesmo olhar cansado, com a mesma
revolta contida de quem compreende muito bem tudo o que lhes catequizam os
jornais. Tu um ser iluminado que chega a casa e ainda tem algum tempo para um
livro que te direccione os sonhos inquietos da noite. Sonhas as aventuras que
lês, enquanto os outros ainda se afogam em cerveja sem pensar em mais nada.
Sonhas que cortas as gargantas dos capitães oficiais dos barcos e que, numa
qualquer revolução, te cortam a cabeça a ti, por seres diferente. Não sonhas
com o resto que pensas quando acordas de madrugada alagado em suor. Vai cavar,
parvalhão. Vai cavar, que outro dia nasceu e outros que dormem, estão à espera
do teu esforço em prol do bem comum.
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