Práticas e Instruções
Anti-terroristas para a Explosão duma Bomba Interior
Vou tirar os sapatos altos na
estrada e…
Sem descer dos saltos vou, fixar
os pés na mãe terra
Dizer adeus às armas e partir
para a guerra
Aprofundar os passos bem firmes
no solo
Para não me tornar supérflua ou
superficial
E ir apelando ao bom senso comum
universal e como tal
Hoje tenho ao meu lado na
trincheira Mr. Johnson um sábio senhor
Partilhamos da poeira, da poesia
e da mesma dor
Procuramos a explosão duma bomba
interior
Mas com palavras, sem nos
tornarmos armas ou instrumentos, kamikazes, terroristas contra o bando,
contrabandistas, extremistas, especialistas do poder e do fazer sofrer
Não… Procuramos simplesmente a
explosão duma bomba interior
Mas com palavras, por vezes tão
bélicas e fatais
Que tanto podem ser cravos como
granadas, intemporais,
Vou pegar nessas armas e partir
para a guerra
Como uma abelha que ferra, uma
mulher que berra,
Com os olhos cheios de raiva
fixados na hipocrisia internacionalizada
Na corrupção globalizada, nos
sonhos roubados
Na imposição de que só existem
dois lados
Na manipulação televisiva e no
povo sentado, privatizado no seu atrelado
Estagnado a falar sobre o
Estado, que não é mais do que o seu próprio estado…
A achar que são eles lá em cima
que fazem a crise e nós freeze
A lamber a ferida para que
cicatrize
Pois o sangue continua a escorrer
e com juros
Então pagamos a dívida para
esquecer,
Para atenuar a dúvida e
retribuir a dádiva daquilo que nos é imposto
Eu intervenho com palavras, em
linhas tortas endireito o peito
Enquanto procuro a inspiração
Bocejo em frente a um esboço
No fundo do poço encontro
rascunhos
Arregaço as mangas, cerro os
punhos
Construo uma bomba poética e
faço terrorismo literário
Numa vontade sublime ou senil de
não querer ser mais um número em mil
Like Mr. King sad I have a dream!
Yes I can! Yes I! Feel!
Porque se não sinto o sistema
estou só a alimentar o meu próprio problema
Como uma mulher cega, surda e
muda, que deixa de ser anarca
Porque arca com as consequências
do norte ao sul, do sul ao norte
E cujos passos não a tornam mais
forte
Porque já nem sabe o que fazer
sendo esta terra a sua
Ou talvez já faça o suficiente,
porque sua e transpira contra a corrente
E com a ilusão de ter a sua
história em mente:
Foi escrava e serva da era
colonial
Máquina do mundo industrial
Hoje é vassala da rapidez
digital
Mas o certo é que leva sempre na
viagem, na bagagem as palavras, a brotar em flor
E a procura da explosão duma
bomba interior!
Tejo
Apanho mais um barco
Arco com as consequências do
norte ao sul, do sul ao norte
Embarco e desembarco mais forte,
dessa viagem
Miragem de uma Lisboa
Onde volto e revolto a deambular
à toa
Na cidade iluminada, onde cruzo
Pessoas do nada. Numa imensidão
desfocada
Luzes, cruzes, morada! Sem
morada.
Sem abrigos nos cantos, na
estrada…
Sim, Lisboa tem muitos encantos
Cidade maravilhosa cheia de
encantos mil
Numa simplicidade infantil
Baloiço ao som das guitarras
Amarras as cordas e esticas a
aragem
Embarcas em mais uma viagem
“Tejo, meu doce Tejo, tu corres
assim há milénios sem te arrepender?”
Entra em mim um rio calmo e
selvagem
A porção d’água que me viu
nascer, e que me faz viver
Respirar sobre ti os lamentos
das almas
Almas vazias
Almas vadias
Almas boémias Almas despertas Almas
poetas Almas a solo
O pé no solo ao sair do barco,
desembarco e embarco em mais uma viagem
Miragem duma Lisboa de artistas
Recheada em turistas
Com vistas que vão da Graça à
Madragoa
Silhuetas deambulam à toa
À procura do cheiro tão
aplaudido
Qui ça esquecido? Preenchido,
invadido
Por desesperos dos mesmos
roteiros
Que combinam miradouros inteiros
Eléctricos ciclicamente
circulares
Tautologicamente cíclicos
Circularmente métricos
Eléctricos
Que apanho confiante enquanto
almejo
Que sejam eléctricos em direcção
ao Tejo
TIME PASSING
Time
passing… Time passing and running and fighting against
Mistakes Tapes Trote
Galope Passo Passeio Salto
Alto Stop! Caminho…!
Desvio um atalho à direita
Um dia de trabalho à espreita
Crianças, amamentar…
Carros viaturas tonturas
Conversas Amarguras
Esquinas Ruas
Vielas nuas
A tal esquina não aparece
E um semáforo vermelho enfurece
Misturas, curas e
Perduras…
Time
passing…
Time passing in front of the computer
Following
instructions
Illusions
Ferrugens
nos dedos
E-mails
enviados
Reencaminhados
Apagados
Stand By!
Stand By Me…
Olhos no ecrã iluminado
Uma silhueta perdida ao lado
Teclados, linhas e frases
Sentimentos audazes
Vontade de contrariar o tic tac
tic tac tic tac
Relógios de cu cu
Um cronómetro atrasado
Uma bússola perdida
Uma carícia esquecida…
Time passing
O tempo passou, calou, frustrou,
de repente
O tempo torce o trânsito no
trâmite transitório de uma tarde atordoada
Atada ao atrelado
Das trevas e tentáculos
De um triste tufão estagnado
Oráculos, Horóscopos e
Astrologia
Para encher a barriga de
fantasia
Na urgência de saber a
meteorologia
Time is fucking passing!!!
Sem comentários:
Enviar um comentário