segunda-feira, 21 de maio de 2012

Raquel Lima (Práticas e Instruções Anti-terroristas para a Explosão duma Bomba Interior)


Práticas e Instruções Anti-terroristas para a Explosão duma Bomba  Interior

Vou tirar os sapatos altos na estrada e…
Sem descer dos saltos vou, fixar os pés na mãe terra
Dizer adeus às armas e partir para a guerra
Aprofundar os passos bem firmes no solo
Para não me tornar supérflua ou superficial
E ir apelando ao bom senso comum universal e como tal
Hoje tenho ao meu lado na trincheira Mr. Johnson um sábio senhor
Partilhamos da poeira, da poesia e da mesma dor
Procuramos a explosão duma bomba interior
Mas com palavras, sem nos tornarmos armas ou instrumentos, kamikazes, terroristas contra o bando, contrabandistas, extremistas, especialistas do poder e do fazer sofrer
Não… Procuramos simplesmente a explosão duma bomba interior
Mas com palavras, por vezes tão bélicas e fatais
Que tanto podem ser cravos como granadas, intemporais,
Vou pegar nessas armas e partir para a guerra
Como uma abelha que ferra, uma mulher que berra,
Com os olhos cheios de raiva fixados na hipocrisia internacionalizada
Na corrupção globalizada, nos sonhos roubados
Na imposição de que só existem dois lados
Na manipulação televisiva e no povo sentado, privatizado no seu atrelado
Estagnado a falar sobre o Estado, que não é mais do que o seu próprio estado…
A achar que são eles lá em cima que fazem a crise e nós freeze
A lamber a ferida para que cicatrize
Pois o sangue continua a escorrer e com juros
Então pagamos a dívida para esquecer,
Para atenuar a dúvida e retribuir a dádiva daquilo que nos é imposto
Eu intervenho com palavras, em linhas tortas endireito o peito
Enquanto procuro a inspiração
Bocejo em frente a um esboço
No fundo do poço encontro rascunhos
Arregaço as mangas, cerro os punhos
Construo uma bomba poética e faço terrorismo literário
Numa vontade sublime ou senil de não querer ser mais um número em mil
Like Mr. King sad I have a dream! Yes I can! Yes I! Feel!
Porque se não sinto o sistema estou só a alimentar o meu próprio problema
Como uma mulher cega, surda e muda, que deixa de ser anarca
Porque arca com as consequências do norte ao sul, do sul ao norte
E cujos passos não a tornam mais forte
Porque já nem sabe o que fazer sendo esta terra a sua
Ou talvez já faça o suficiente, porque sua e transpira contra a corrente
E com a ilusão de ter a sua história em mente:
Foi escrava e serva da era colonial
Máquina do mundo industrial
Hoje é vassala da rapidez digital
Mas o certo é que leva sempre na viagem, na bagagem as palavras, a brotar em flor
E a procura da explosão duma bomba interior!

Tejo
Apanho mais um barco
Arco com as consequências do norte ao sul, do sul ao norte
Embarco e desembarco mais forte, dessa viagem
Miragem de uma Lisboa
Onde volto e revolto a deambular à toa
Na cidade iluminada, onde cruzo
Pessoas do nada. Numa imensidão desfocada
Luzes, cruzes, morada! Sem morada.
Sem abrigos nos cantos, na estrada…
Sim, Lisboa tem muitos encantos
Cidade maravilhosa cheia de encantos mil
Numa simplicidade infantil
Baloiço ao som das guitarras
Amarras as cordas e esticas a aragem
Embarcas em mais uma viagem
“Tejo, meu doce Tejo, tu corres assim há milénios sem te arrepender?”
Entra em mim um rio calmo e selvagem
A porção d’água que me viu nascer, e que me faz viver
Respirar sobre ti os lamentos das almas
Almas vazias
Almas vadias

Almas boémias Almas despertas Almas poetas Almas a solo
O pé no solo ao sair do barco, desembarco e embarco em mais uma viagem
Miragem duma Lisboa de artistas
Recheada em turistas
Com vistas que vão da Graça à Madragoa
Silhuetas deambulam à toa
À procura do cheiro tão aplaudido
Qui ça esquecido? Preenchido, invadido
Por desesperos dos mesmos roteiros
Que combinam miradouros inteiros
Eléctricos ciclicamente circulares
Tautologicamente cíclicos
Circularmente métricos
Eléctricos
Que apanho confiante enquanto almejo
Que sejam eléctricos em direcção ao Tejo

TIME PASSING
Time passing… Time passing and running and fighting against
Mistakes Tapes Trote
Galope Passo Passeio Salto
Alto   Stop!      Caminho…!
Desvio um atalho à direita
Um dia de trabalho à espreita
Crianças, amamentar…
Carros viaturas tonturas
Conversas Amarguras
Esquinas Ruas
Vielas nuas
A tal esquina não aparece
E um semáforo vermelho enfurece
Misturas, curas e
Perduras…
Time passing…
Time passing in front of the computer
Following instructions
Illusions
Ferrugens nos dedos
E-mails enviados
Reencaminhados
Apagados
Stand By!
Stand By Me…
Olhos no ecrã iluminado
Uma silhueta perdida ao lado
Teclados, linhas e frases
Sentimentos audazes
Vontade de contrariar o tic tac tic tac tic tac
Relógios de cu cu
Um cronómetro atrasado
Uma bússola perdida
Uma carícia esquecida…
Time passing
O tempo passou, calou, frustrou, de repente
O tempo torce o trânsito no trâmite transitório de uma tarde atordoada
Atada ao atrelado
Das trevas e tentáculos
De um triste tufão estagnado
Oráculos, Horóscopos e Astrologia
Para encher a barriga de fantasia
Na urgência de saber a meteorologia
Time is fucking passing!!!

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