segunda-feira, 21 de maio de 2012

Carmen Serralva (Numa aldeia pobre, com Invernos rigorosos)


Ciranda, a costureira. Numa aldeia pobre, com Invernos rigorosos, onde se vê o fumo a sair de todas as chaminés e nas ruas apenas os cães vadios que procuram o seu sustento nos bidões quase vazios à saída da aldeia, as pessoas, modestas e honestas, viviam entre os serões algazarrados nas salas de estar comuns das casas e os dias compridos a trabalhar na pequena leira antes e depois do emprego na grande estufa de tomates do patrão. A grande fatoria que no princípio alegrou as pessoas, trouxe problemas primeiro, porque as pessoas não se alimentam sempre a tomates, também têm que vestir e calçar e, se bem que a grande estufa trazia novos postos de trabalho, era insuficiente para as necessidades das grandes famílias e,
pior de tudo, já não havia mais culturas de algodão, os pastos eram mais cada vez mais pequenos e o dinheiro que era suposto ser para os melhores acessos, foi usado para construir uma estátua monumental ao patrão, o que fez com que as pessoas ficassem no mesmo isolamento. Havia uma mulher a quem a má sorte tinha deixado sozinha pelo acidente do marido na trave pendente à entrada da estufa, acompanhada somente dos gatos que cirandavam a sua casa, e combatia a pobreza, costurando roupas para os aldeões. Dia e noite passava com a agulha na mão, mas quando as pessoas deixaram de ter dinheiro para lhe pagar, também ela começou a ter problemas em comprar a linha para entrelaçar os trapos. E os gatos em sua casa, sem nada para comer, aumentavam a chiadeira e começou também ela a falar com eles em jeito de mios. As pessoas que iam lá ouviam muitas vezes interjeições miadas. Uma vez quando varria o chão cheio com pêlos compreendeu que podia fazer fio do pêlo dos gatos. E experimentou fazer umas roupas para ela que resultaram às mil maravilhas e até tinham um bom cheiro. Então decidiu exceder-se e  fazer uma roupa para ocasião especial. Quem usava as vestes de Ciranda gostava do seu trabalho que era ainda mais barato. Mas em relação à estufa de tomates, as pessoas da aldeia caíram numa depressão colectiva, já não mais se trabalhava com gosto e havia sempre uma extra-produção de tomates, vazada pelos aldeões que compravam o produto a baixo preço para alimentar os porcos e as vacas. Ainda por cima, ouviam-se novos rumores de que a fábrica ia substituir a mão-de-obra humana pelos eficientes manápulos das máquinas robotizadas. Um Inverno mais rigoroso, um verão com menos água potável e as pessoas sem muitas alternativas começaram a falar mal do patrão e a pô-lo de parte em todo o lado deixaram de falar com ele. Uma nova greve começava, não com o deixar de trabalhar, mas a ostracizá-lo sempre que se cruzavam com ele: «o patrão anda a fazer dinheiro com os seus tomates», «os tomates do patrão são grandes e vermelhos, mas só porque ele os estruma», «sem estufa o patrão ficava mas era sem tomates». Então o homem quis fazer alguma coisa para que gostassem dele e decidiu fazer uma festa para toda a gente da aldeia e como era uma festa da aldeia em vez de comprar um fato, foi à costureira para lhe fazer um traje fino. Às duas por três, a costureira quando viu o fato de ocasião que tinha feito para si desatou a rir-se durante meia hora, depois entre guinchos e mais guinchos riu, porque tinha descoberto um fio que denunciava malandros, porque o fato que usava todos os dias estava perfeito, nenhuma costura tinha cedido e também nenhum dos seus clientes se tinha queixado, mas o fato deixado no armário sem os humores do corpo estava desfeito! Quando visitavam agora Ciranda e falavam da festa ela dizia que o fato que preparava para o patrão era especialmente para uma pessoa que se preocupava com tomates e falavam também da raiva que crescia pelo patrão que não percebe nada de organização,
que ele era como uma criança a quem se dá dinheiro e que vai gastar o dinheiro em doces e das coisas que iam fazendo falta. E as pessoas de repente ficaram contentes quando perceberam o que se ia passar na festa. E no grande dia o patrão tomou a palavra e disse que sempre foi do tipo de pessoa que faz por satisfazer os pedidos das pessoas. Quando ele acabou de falar a banda começou a tocar para que não se notasse a falta de palmas e as pessoas foram ter com ele e começaram a fazer pedidos. Ciranda também se aproximou dele e tocou-lhe no braço o que pôs o homem a correr a sete pés, e quando ele ia a passar entre as mesas do salão, engatou o bolso das calças numa cadeira ao que se rasgaram os bolsos e quinquilharam as medalhas da sorte feitas de oiro. E quando olhou para trás e viu a multidão a dirigir-se esfaimadamente para ele tropeçou noutra cadeira e as roupas desfizeram-se deixando o homem nuzinho tal como deus o trouxe ao mundo. Então estalou o riso de toda a gente: «olha quão orgulhoso está o patrão dos seus tomates, até os pela!». Com isto, desapareceu o sr dos tomates e mais a sua estátua. A estufa foi transformada num gatil e não mais se falou em tomates. Passaram a vir pessoas de longe para comprar as vestes bichanas de Ciranda, a costureira remediada. E na aldeia passou a haver mais gatos que pessoas e as pessoas adoptaram um novo dialecto.
Tontural Sôr doutor Arlindo, meu compadre, bons olhos o vejam. O que me traz por aqui é este mal que me atazana, dia e noite... já não sou a mesma pessoa, vossemecê mesma conhece-me, já nos conhecemos há quê? dois dias? E eu conheço-o tão bem que sei que tudo vai bem consigo, não lhe acontecem estas coisas que me estremecem. Eu olho para o seu figurão e vejo que está bem, robusto, nem preciso de inquirir-lhe como passa. Já não consigo aguentar-me vinte minutos sentados. Acredita que como de pé? Vem aquele zumbido nos ouvidos, só passa quando me mexo, se encontro a minha atenção em nada, nada de nada, aparece-me um zumbido, começa a soletrar me coisas, mas o pior é que não sei em que língua é que vai sair. Já tentei conjugar o tipo de sussurro a uma língua, mas não há nada para estabelecer um sincronismo. E o pior é conseguir juntar as letras todas e depois da palavra estar formada, perceber o sentido. O que posso dizer que na maior parte das vezes sucedo-me bem. Sabe, eu tento fazer algumas coisas e para sair deste estado vim a falar mais com as pessoas mas elas falam e a sua voz ressona na minha cabeça como num quarto de tecto oval e olhe, da ultima vez que estive a falar com a minha mulher, ela estava a falar do fogão, e eu estava a pensar que tínhamos um dragão em casa, depois, prontux, la nos entendemos, mas sabe o que aconteceu depois?! Não a deixei fazer omeletes porque achei que deixávamos de ter gás. E o gato que para lá guerreia, sempre a mandar vir, ja me disse que também não lhe satisfazia esta situação. Eu sei que não eh maluqueira, é só um mal estar prolongado. E sabe o que me vem à cabeça? Tomar uma turra, tontura com turra se paga. Não é uma turra, não contesto que um abalo nesta cabeça não acalmasse esta moléstia do silencio. É óbvio que vossa excelência sabe o que é uma turra! Então, todos os dias vou para o meu terraço e vejo-me a subir as escadas para as nuvens onde eles fabricam os lápis de cotão, e eles dizem que eu não posso levar um lápis daquela categoria sem mais nem menos, é preciso distrai-los e depois só os posso levar com a ponta dos pés, o que é uma grande maçada porque tenho de andar ao pé coxinho o que me deixa completamente fatigado. E la me ponho a tocar o tontontonton e eles dançam tanto tanto que todo o cotão fica em reboliço e começa a nevar nas telhas do meu curral. E ai tenho sossego! Acho que é do ton! Ai, esse tonton é a dose que eu preciso para me sentir com os pés na terra. E aí, vem um som da terra, pouso os dois pés e ouço o curral a urar. Sôr doutor, é a coisa mais fantástica que já ouvi, os meus rebanhos oram em forma de urrus e não consigo evitar de me juntar a eles. Ui ui. Dessa vez é que foi Sôr Arlindo, senti-me curado, cheirava a relva, saltava a água, exprolinava no rebouxo da aldeia, maravilhas! Pé numa, pé ah direita, já sem sussurros, sem coisas esquisitas, senti-me mesmo uma pessoa comum, a costurar os rebentos dos poros do meu cabelo. Sentia-me um existente integro. Ouvia as pessoas falar comigo, mas depois percebi que esperavam que eu lhes dissesse alguma coisa, tinham-me feito perguntas e eu ainda os ouvia a falar pelos cotovelos. Então percebi que a resposta que estavam ah espera era um assobio pelos dedos. E fui para casa com um par de mochos na mão e apresentei-os à minha mulher e foi ela que me disse, vais mas é ao doutor. E aqui estou eu a despejar estes meandros como quem se revela. Eu sei que o senhor me quer receitar calmantes, mas se me faz o obséquio...  sabe... Eu sei que o que me faz falta... receite-me um tontural para tomar com o caldo e alguns desses cigarros medicinais com substancias psicorurais. Não lhe peço mais!
Acácias swarosky
 / mas tu arde / prepotente macio / repousando no marfim de luar vermelho engulo o líquido e no fundo garrafal / se vê o degrau fundamental / diagrama estrutural figura conjugal / espectro teatral / a sombra que em ti guarde / o estigma da tua tromba / o teu anil cobarde / não mostras o cu / não lhe dás agua fria / deixa cair e reluz a pila que em ti se enfia / gaúcho desintegral / como isso aprecia / redime-se ao total / suspira-me e esvazia / desfruta agarra duro as pernas / espreme.as com as unhas / diz me as alcunhas / desconheço as anilhas que mesmerizo com o cunho / que deixa disformes meus punhos / mas morra / a minha boca é testemunho / fomento teus esgares / cipreste de folha perene
Lamaçois e andrajos
pé de cabra / lambei os dedos da vossa cama assim no pântano como nas virgens / se nada é estanque / nada há que me manque / só eu comigo estou / e assim conheço o meu mijo / e quem tem a doença das víboras / é vivípara venenisca / apruma me, meu pêssego /
 meu vímeo improvisco / com o som das pedras apara-venho / serpente que da tua lentidão insulcas / o sibilar nas suas costas / como quando sabes insultas / o sultão que te recolhe / culpas? - chupa-o -quem quer vergonha a quem lhe falta a alma? / lambes os beiços e contratas o estômago vazio / fome ou apetite? / sapatos de empreiteiro ou pés de peixeiro / aguças o espinheiro / cravo arruaceiro / meu bravo Sebastião desaparecido / pessoa, quem sou eu? / despropria a ranha / arregaça a cona / rola que arreganha ranho de peçonha / culpa atirada / fico eu mais dura / mas o desengano aparece e morde me o seio de lado / descoberta que alumece e bate bem do rabo / não é por ti, somos nós / que por outro arreganha / arranha a teia e sorri / apenas luz entranha / sei para que me queres / e cedo doce à cana / despertas os prazeres / que rejubilam os teus lazeres aos quais não falta laia / mas que dizem de deveres / crise é para quem não crê / mas lamento teu alento que por mim tem a mana / e que sempre vê e é / presta a quem a tenha / quero fazer te rir mas vê a tua lua nutre os meus ouvidos.
zâmbia dúbia
 ciganices zubizaba, dubai, ainda bem que aproveitaste a energia do
calor do momento
para a fazer a tua tour ada, haja, cá fé
se toma com moca, enquanto a moca não bate, os
batentes esperam imóveis e maçãs de prata cobiçam as patas.
sou pá teta és teta rã beta pi teca peca teça messa des peça alto tez mor guiza relva da selva salva zebra alva, dici calva. cavo cravos. fun teaser, fun
tesa, fan te sia, as voltas as voltas como a hélice chapelar, voam
pensejos restos de desejos. amanha vou a trás os mon tês.
bis ôntes ontem sempre rente, rezo ranço. ar eja, eia
sol feia, maneia da mania. encontrei ontem
umas lentes de sol para aplicar nos
óculos, tenho de continuar com
estes.. trichinobenzoar,
 fantasia de barca
parca.. triste
em riste,
tape te
per sã.
eu e a au
gusta fomos
com uns gregos
que tão cá de erasmus
fomos visitar uma igreja que
eles queriam ocupar que pertenceu
a confraria de jesus de alem, do outro lado
 do rio quem ta a passar pela marginal que vai do
 Freixo para a ribeira, não sei se vai dar para levantar o
cheque, não temos nada que diga que somos do mesmo agregado,
se calhar tenho que ir à segurança nacional.  checa averigua, verga, põe em cheque, atenta ao roque, sem lei nem rei, provoca a prova. a men compras de hi jack material desmaterializado, ouço perdoo e enjoo o doce do roubo. Cuidado com os mosquitos das aguas paradas, e o cancro dos fritos, lago baixo, chapinhar, pinho ro busto, peito do rês pinto tem te todo, das unhas
ao nariz essence.dia.rio prece a prece prresse com pressa
 enquanto não adormece / ralece parece cremesse
apostece moleque cresce e acontece. na volta
creme less. bes unto pop junco, fusso
ou funcho? damn inha al
mondega adega
 dega dega
 diga
 dig est
ce que esse
despenteia peia
peia, em pola pula poda
ape.no-eia rareia (apeneia do ape
da noia - moi-a ou roi-a ate a jóia) - moi au
 roi jusqu'a joie - true through tróia trégua. s h
e n e m e i a pompeia trassa graça, traça grassa, troça
grossa, ape trace apetrecho entrançado. as vezes trinco.
as vezes brinco. as vezes feira. as vezes teia. quem souber ler
que leia, sem mente não mente, alumeia a verborreia gabiru de geleia per fumia
Desculpa o invaso
o corpo remexe-se à invalidez do desdém ilimitado do que tu conténs. contas-me o cansaço e eu consto na tua lista de bendizeres, mas o que é dito é iliberal  nem sempre ilibado. seguidamente abrem-se as pernas e de desmandro as flores que sao maceradas e desculpadas do seu veneno. Podias esquecer te de ti, esquecer a tua dor, esquecer e abraçar-me, beijar-me, denunciar os meus caprichos enquanto eu aliso as faces do teu limiar. o orgão prolífico, o beijo roliço, a força da imensidão = dispersão do isolamento + inserção conceptual
Minhocas de absinto
A criança de Piaget / Tronco da tropicalidade / Extrapula à mercê / Da vossa crapulidade / Encosta, se mostra o quê? / Pontifico a prontalidade / E se vais perguntar porquê / Remonto à igualdade. / Alienação de quê? / Se tudo é espontaneidade / A teia tece / A troça da fealdade / E que importa quem diz o quê? / Onde sai na masturbarde / Consumo não para mim,
Mas para minha expressidade / Quer demonstrar por fim / Que abstenho individualidade / Cria, espeto / Com respeito, correcto / Bem, mal, você / Passoa para disparidade / Amém, porquê, porquê?
Sincronismo
 Dita,
Desdita / O que é isso da pluralidade do ser? Tinha a noção exacta de como se  
penteava
As néscias do resto do lanche / Olival / Psicologia das vidas comuns
Desvalorização do valor permanência – redundância
Telenovelas brasileiras = microondas
Estilo abusador - Sair da merda
pelos próprios pés
the bride and
the broom
 a despersonalização e a morte

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